[publicado no bog Taroteando, em 3 de junho de 2011]
Pode parecer estranho para quem sabe sobre minhas preferências que este seja um escolhido meu, para compor minha coleção de decks de Tarot [amo decks coloridos, psicodélicos, vistosos] .
Mas o que me atraiu nele foi o fator 1 impreterível: cores, mesmo sendo um deck que nos remete ao medievo, as cores nele estão bem impregnadas, cores despertas...
O fator 2: ao visualizar suas lâminas na página da Taroteca conferi que cada arcano menor trazia uma miríade de detalhes, de "falas simbólicas" não vistas dessa forma em outros correlatos a ele.
Assim agora com ele aqui, após analisar cada uma das cartas confirmei ter realizado uma boa escolha, e mais ainda, entendi ao ver e compreender as ilustrações, detalhes que sinalizam haver na sua confecção a inserção dum cotidiano bem distanciado do modelo imperativo de outros decks similares o modelo religioso medieval europeu [me refiro à linha temporal, a época ou período o qual ele retrata], e sim surpreendentemente surge em suas ilustrações um cotidiano "paganus", aquele do homem do campo que ainda executa no seu dia-a-dia todos seus afazeres pautados nas crenças ligadas à terra, aos seus ancestrais, ao apego em superstições e amuletos, que em nenhum sentido seriam e são cristãos...
Os convido a reconhecer esses símbolos e magia neles:
Vemos nelas, nos "instantâneos" duma vida nada privada, artefactos, que aos olhos de alguém familiarizado com eles resulta impossível um não reconhecimento, uma não identificação quanto às práticas mágicas, crenças e mitos pagãos da região dos países baixos, do sudoeste e mediterrâneo da Europa.
É possível reconhecer inclusive certas celebrações sazonais, que para muitos de nós são ainda celebrados, que são centro da ritualização de muitos neste hoje.
Quem foi Pieter Bruegel?
Também conhecido como "O Velho", foi um artista, um pintor holandês, do século XVI, cuja arte focava o fazer diário do camponês sem pudores, do homem que vivia da terra, na terra, e para a terra.
Assim suas obras são marcadas pela presença da natureza, e do cotidiano daqueles seres humanos que Dela faziam o eixo de vida. Essa marca, de ilustrar a humanidade sem pudores, torna sua arte um retrato vivo e fiel do que realmente era a sociedade desse período.
Assim suas obras são marcadas pela presença da natureza, e do cotidiano daqueles seres humanos que Dela faziam o eixo de vida. Essa marca, de ilustrar a humanidade sem pudores, torna sua arte um retrato vivo e fiel do que realmente era a sociedade desse período.
GuidoMarchesi toma assim subsídios e insumos desse universo farto, grotesco e vivo que impregna a obra de Bruegel, e cria este belo deck de Tarot, publicado pela casa Lo Scarabeo.
Ao fazê-lo o sentido "mágico e simbólico" é pauta. Não por que seja uma iniciativa livre do ilustrador, mas sim por que era essa a particularidade, especificidade de Bruegel em seus pinceis.
O mais interessante é que insertadas nas lâminas encontramos frases, tanto as populares [refrãos] do período, como frases que certamente foram colhidas em missais ou missas, e isso se torna um jogo de legitimação e continuidade para aquelas crenças do campo perante a crença "oficial", num momento onde o camponês de forma astuta lida com a crença imposta "num ensaio do sei o que ela diz", mas "faço como sei e creio"... Simplesmente fantástico!
Outro aspecto que salta aos olhos é a humanidade ali congelada, é uma humanidade crua, tal e como é ao olho nu, desprovida de retoques para tornar a arte mais aceitável ou agradável ao apreciador mais recatado ou moralista. É a humanidade visceral.
Em suma para quem aprecia um "tour histórico-simbólico-mágico" este deck é sem dúvida alguma o ideal.
Sempre grata,
Luciana Onofre
p.s: Se você quiser mergulhar nesse universo de surpresas e familiaridades, no Armazem Divinare é possível encontrar o deck!
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